A minha PX 200... máquina espectacular. |
Muitos se irão
perguntar o que leva alguém
a fazer uma jornada destas até
ao topo do Reino Unido, de Vespa, e num período
de tempo tão curto... eu não sei responder, pelo menos de
forma clara para todos, mas de uma forma muito directa respondo... porque sim!...
Se é uma
forma de testarmos as máquinas,
testarmos as nossas capacidades, juntar os amigos em torno de um objectivo e
gosto comum ou simplesmente podermo-nos vangloriar de tal façanha... é tudo junto.
Compreendo que seja difícil
perceber o gosto e prazer que se pode ter 10/12 horas seguidas em cima de uma
sela (obrigado Ricardo pelo empréstimo)
praticamente sem comer nada durante o dia e abastecer de 120 em 120 kms para
fazer entre 500 e 700 kms todos os dias para conseguir o feito de 3236 kms em 6
dias a rolar no Reino Unido... só quem faz
é que sente isso... podia
falar de forma poética de
uma ligação homem máquina, da simbiose natural do
vespista e a sua montada, do ultrapassar dos limites do imaginável, mas não, trata-se apenas de gostar
mesmo de andar de vespa e querer ir aqui ou ali, não tem nada de idílico,
é apenas agarrar e ir!
Mas uma coisa garanto e sai uma vez mais comprovado desta
viagem, vale mesmo muito a pena... pela experiência,
pelas paisagens, pelas pessoas, pelos cheiros, pelas comidas e costumes
variados... enfim, por tudo o que se vive nestes dias.
Esta viagem tinha como pretexto e início de planeamento o Vespa World Days em Londres
mas depressa se alastrou a mais uns quantos destinos... Stonehenge, Ace Café de Londres e o VWD (como não podia deixar de ser) isto
falando de Inglaterra... mas já
que íamos subir até norte de Espanha, apanhar um
ferry de quase 24 horas até
ao sul de Inglaterra porque não
subir ao norte mesmo e ir até
Edinburgo e Glasgow... já
agora, que tal subir um pouco mais e conhecer Loch Ness e quem sabe ir até
John O'Groats???... a fasquia era alta mas a vontade de ir também.
Depois de alguns meetings com o grupo que eventualmente faria
parte da "expedição"
sobraram 3 elementos, eu, o Penas e o Adolfo que fez a coisa com a sua Africa
Twin... a passo de vespa claro.
O arranque foi a partir da XCUT, logo depois de almoço
do dia 12, rumo a Santander, com paragem prevista na Guarda, o que se
verificou... e muito bem.
Bela jantarada... isto estava a começar bem. |
Arranjámos
uma residencial porreira por 50€
para os 3 com pequeno almoço
incluído... e melhor ainda,
fomos jantar a um restaurante de grelhados daqueles.... boa carne, bom vinho e
bom atendimento... como diz o outro, é
tudo bom!
Segundo dia e foi enrolar punho (literalmente) até Santander... por alguma razão a minha PX não estava a responder bem e algo
se passava... vela trocada, gigleurs soprados e carburador soprado, a coisa
manteve-se por mais uns depósitos...
mais ao final da tarde a coisa melhorou... foi só
para criar alguma tensão e
suspense.
Final da tarde, 19h, Santander e ferry com eles... foi tudo novidade,
a quantidade de motas que entraram, a quantidade de carros, o quarto e o ferry,
tudo muito louco, gostei mesmo... e melhor ainda, amanhã estamos em Inglaterra.
Chegada a Inglaterra por volta das 16h e meus caros, chovia como
na rua... que recepção...
fatos de chuva, polainas e tudo o mais que conseguíssemos para o dilúvio
que nos esperava... para facilitar ainda mais um pouco, os tipos conduzem do
lado errado da estrada e habituar-me a isso com uma chuvada daquelas e sair da
cidade rumo a Londres foi tarefa que exigiu concentração... mas deu logo ideia de que a coisa não ia ser um passeio no parque.
O estendal montado... |
Fizemos cerca de 160kms debaixo de uma chuvada medonha e tivemos mesmo de
arranjar dormida... com indicação
num bomba de gasolina descobrimos uma cadeia de "hoteis" de beira de
estrada que nos foi muito útil
durante a viagem, os Travelodge, com preços
muito porreiros (para a realidade no Reino Unido).
Stonehenge vista por cima da rede... |
Segundo dia em Inglaterra e era hora de rumar a Londres, ao Ace
Café e ao VWD... a chuva ia
dando umas tréguas mas não estava fácil... passámos por Stonehenge, e
sinceramente, ao vivo a coisa perde muito mesmo... meia dúzia de calhaus ao monte numa
colina não mereciam 8
libras para fotografar o que deu para fotografar por cima da rede... estou a
brincar, mas de facto fiquei um pouco desiludido.
Arrancámos
para Londres, para ir comer uma bucha ao Ace... foi um filme para lá chegar porque o trânsito é insuportável,
mas lá chegámos... estavam lá uns vespistas alemães com as vespas todas ratadas e
personalizadas... muito bom mesmo.
As fotos e os autocolantes da praxe e lá fomos para mais 1 hora de trânsito até ao VWD, porque além
do trânsito caótico, Londres é mesmo grande.
Chegados ao recinto, encontrámos
o amigo Serra e mais um amigo do Penas da Benedita... esse pessoal anda
espalhado por todo o lado... depois de saber que tinha de comprar um bilhete de
1 dia para entrar na tenda para ver meia dúzia
de bancas fraquinhas, segundo o Serra, e no fundo para comprar um autocolante
do evento, ficou o Serra com essa incumbência.
Mais uma vez, as fotos do costume a vespas e mais vespas de
todas as cores e feitios, uns melhores que outros, e toca a arrancar para norte
que já se faz tarde... eram
17h e a ideia era arrancar por volta das 14/15h... vamos ver.
Ainda conseguimos fazer quase 250kms mas isso custou-nos a noite
mais cara da viagem, umas módicas
145 libras... incha pacheco... deixa estar que um dia não são
dias.
Hora de olhar para o mapa... será que vai dar?... |
Era altura de fazer um ponto da situação e tentar perceber se havia condições para subir até John ou não porque o tempo era escasso, os
kms muitos e a chuva não
dava tréguas... decidimos
que se conseguíssemos fazer
700kms no dia seguinte dava na boa para isso e regressar de forma tranquila
para sul, mas seria um dia a doer...
E foi, doeu mesmo, só
conseguimos 590kms, sendo 500 deles debaixo de chuva, e da molhada... bem
molhada... raio de países
onde só chove.
Mais um objectivo alcançado... Escócia. |
Mais um de muitos abastecimentos... um pouco molhados mas satisfeitos. |
Conseguimos ir dormir a Perth, uma cidade pequena do interior muito fixe e onde
não foi fácil arranjar hotel, mas quando
arranjámos, tivemos sorte e
tinha restaurante... já não tínhamos uma refeição
sentados e de prato desde a Guarda... e valeu bem a pena, belo jantar. Bela
carne e belas cervejas escocesas... foi tão
bom que o facto de não
chegarmos a Inverness como seria ideal não
nos demoveu da ida ao topo do (nosso) mundo... decidimos tentar reservar
dormidas, agora que os objectivos eram mais claros e isso facilitava em muito
os finais de dia porque nos permitia chegar mais tarde ao hotel e saber
exactamente onde ir ter, sem perder tempo a procurar... e em termos de preço a coisa também melhorava.
Mais um dia de jornada e desta feita rumo ao objectivo
principal, John O'Groats... isso significava mais de 600kms de serra, com a
viagem até ao topo e
descida até Tore
(Inverness) para dormir numa guest house com um preço simpático.
Assim foi, arrancámos cedinho para esta missiva e ás 16h estávamos a tirar fotografias em John... missão cumprida.
John O'Groats... ponto alto da nossa viagem. |
"Caracas, deixa-me sacar 1 lt da cisterna que vem connosco senão não chego lá acima." |
As 3 meninas no topo da Escócia... máquinas!... |
Uma bucha para dar energia para o regresso... antes que chova. |
O regresso já foi um pouco mais húmido, para não dizer muito molhado mesmo mas adiante, vínhamos cheios de orgulho em ter chegado ao topo, no tempo previsto e sem contratempos... a chuva e o piso molhado iam-se encarregando de fazer isso, e o pneu que tenho montado atrás que o diga, queria fugir para a berma numa das milhentas rotundas desta zona... nada de mais mas deu para aquecer um pouco apesar do frio e da chuva que faziam.
Encontrar a dormida não
foi fácil, mas nada como um
escocês meio etilizado á porta de um pub para ajudar...
como também ele não sabia, entrou no pub, trouxe o
telefone fixo para a rua e ligou directamente para lá... impecável,
até conhecíamos o sítio porque tínhamos
posto gasolina lá perto...
toca a andar e recolher aos aposentos que amanhã
há mais... não sem antes trocar a lâmpada traseira de presença da minha PX e o Penas dar um
jeito á sela dele... situações resolvidas, vamos fazer o
estendal no quarto e toca a descansar.
Era assim todas as noites... onde é que vinha aquilo tudo é que custa a perceber. |
Este foi o dia perfeito da viagem, sem menosprezar todos o
outros, claro... começou
com um pequeno almoço
tradicional numa bomba de gasolina em Tore de se tirar o chapéu... e segundo a senhora
"it's the small breakfast, for kids"... bom, imaginamos o outro.
Foi a estrada mais espectacular, mais bonita, mais louca que eu
já fiz, de vespa, de mota
ou de carro e até mesmo em
pensamentos... foram paisagens de cair o queixo, com umas cores e uma luz únicas de um dia de sol forte e
que nos fez passar o melhor dia de viagem a nível
geral, paisagens, clima, condução,
etc.
Paisagens de cair o queixo... mesmo. |
Uma pequena vila onde passámos. |
E mais do mesmo... espectacular |
Esta estrada então... meus amigos. |
Deu para curtir umas curvas como ainda não tinha dado (e fiz o gosto o mais que pude... e
consegui), sentir o sol nas costas a aquecer e perceber que todos estes kilómetros tinham um propósito, fazer estes 200kms ao
longo de lagos e vales que eu julgava existir apenas em filmes e fotos
(devidamente tratados em computador)...mas não,
são reais e existem na Escócia... e eu passei por lá, e ainda por cima de Vespa...
melhor, quase impossível.
Fechada esta estrada, mais uns quantos kms de motorway (de
salientar que as estradas são
muito boas e todas elas gratuitas) até
Lancaster onde conseguimos dormida, marcada online, por 24,80 libras para os
3... assim, sim... janta no Burguer King, á
conversa com um rapaz de Peniche que está
em Lancaster há 2 anos e
nos confidencia que a coisa por cá
já não é
o que era... deixa lá que
em Portugal também não.
Algum atraso na viagem fruto de uma cavilha que insistiu em
entrar no meu pneu traseiro (o mesmo que queria fugir o outro dia... foi
castigo)... troca de pneu debaixo de uma ponte porque chovia bem, e os camiões passavam a abrir levantando
aquela neblina agradável...
enfim, ossos do ofício...
próxima bomba, além de um pequeno almoço inglês tive de montar nova câmara de ar no menino, porque nunca se sabe, e
gastar 50p na máquina de
ar, porque meus caros, aqui isso paga-se... se isso se sabe em Portugal estamos
no mato.
Assistência rápida até porque chovia á séria. |
Cavilhoni, o maldito!... |
Fora isso, a chegada foi tranquila, com um pequeno engano no
hotel da reserva... mais 30kms para abrir a pestana... por volta das 18h lá arrancamos nós para Brighton, desta vez sem
gps, morreu ao chegar ao hotel... 80kms para lá
para conhecer o mítico
"pier"... e valeu a pena, é
de facto um lugar muito especial... uma vez mais o sol acompanhou-nos e fez-nos
companhia na particular praia de Brighton (desta vez estavas atenta Piolha)...
muito louca a praia e a relação
do pessoal com o sol e os finais de tarde... só
a areia é que é pouco grossa, tipo 25/30mm os
grãos mais pequenos.
O mítico Brighton Pier |
O cais parece saído
de um filme, numa mistura de old school e kitsch impressionante... tudo o que
se passa no cais parece ensaiado de tão
fora que é, pelo menos aos
nossos olhos porque o pessoal vai lá
passear, comer ou simplesmente apanhar sol de forma tão natural como nós
vamos ao centro comercial... não
percebi se me ia aparecer o Tom Sawer ou uma personagem do Tim Burton de tão impressionado que fiquei com
aquela (i)realidade...
Adorei mesmo e fiquei muito contente de não ser mais um Cabo de La Gata nesta viagem de Vespa... já bastou ou outro (quem foi a Valencia percebe).
Sensacional... estava com umas cores brutais. |
Adorei mesmo e fiquei muito contente de não ser mais um Cabo de La Gata nesta viagem de Vespa... já bastou ou outro (quem foi a Valencia percebe).
Mais uma moedinha, mais uma voltinha. |
Tirei umas quantas fotografias para a posteridade e para me
recordar sempre da sensação
que tive, fomos ás compras
para o jantar e pequeno almoço
sem nunca pensar no filme que foi para sair da cidade e apanhar a direcção certa para o hotel no
emaranhado de estradas e autoestradas que eles têm...
raio do GPS faz mesmo falta... tivemos de ir e vir para centro 2 vezes para
sair bem, mas lá fomos...
claro, chegámos ao hotel ás 23h com o dia com mais kms
percorridos... 712 deles... hora de comer uma bucha e arrumar os tarecos para a
viagem de amanhã,
inicialmente de 46kms de estrada até
Portsmouth e seguidos de 24 horas de ferry... vamos lá.
Manhã de sol
em Chichester... pequeno almoço
no quarto para não perder
tempo e eis-nos a arrumar tudo nas motas para o último
trajecto no Reino Unido, até
ao ferry que nos levaria a Santander... arrancamos com as viseiras abertas a
saborear este sol algo raro que nos acompanha até
Portsmouth e se despede de nós
com uma luminosidade e intensidade única
nesta viagem... instalados no ferry, com as montadas nos decks inferiores, hora
das fotografias da praxe de despedida do porto e desta ilha onde felizmente
tudo correu pelo melhor.
O tour do Reino Unido... sem dúvida que estávamos felizes. |
O sol veio para a despedida. |
Cerca de 24 horas depois, chegamos a Santander, que nos acolhe
com nuvens carregadas e ameaça
de chuva eminente... que se verificou mal saímos
da cidade e começámos a
subir a montanha... nada a que não
estejamos habituados... passada a parte dos Picos da Europa vem o sol, que
felizmente nos acompanhou o resto da viagem.
Montaditos ou febras?... Febras seguramente! |
Por volta das 20h chegamos á
Pensão Aliança onde somos recebidos com
alegria pelo mesmo senhor que nos tinha recebido semana e meia atrás... motas na garagem,
instalados nos quartos, rumamos ao tão
esperado restaurante para ver a bola mas acima de tudo para uma comezaina
daquelas... assim foi, e tudo em bom, Portugal ganhou e passou á fase seguinte, o jantar estava
espectacular e ainda fechei a janta com duas belas fatias de queijo da serra
com uma colherada de botelha, vulgo doce de abóbora...
isto a acompanhar mais um ou dois copos de tinto da casa... isto é Portugal.
Demos um giro pela zona histórica
e fomos beber um Bushmills a um bar na zona, para ajudar á digestão... boa escolha esta de seguir sem parar em
Salamanca, sem menosprezar essa bela terra onde, como diz o outro, já fomos muito alegres, até demais hahahaha.
Manhã de
sexta feira, 11 dias depois de termos saído
de Lisboa, pequeno almoço
tomado na pensão, arrumamos
os tarecos nas montadas e seguimos viagem, desta vez por estradas do interior,
sem A23 a pagar... seguimos para Celorico da Beira por uma estrada espectacular
cheia de curvas que fazem a delicia da PX, daí
para Coimbra, também por
estradas muito boas para aproveitar o sol e alcatrão seco que tinham vindo para ficar.
Bem sabemos que o piso, enfim não é o melhor mas a temperatura... e as curvas... |
Corre tudo bem até
perto de Coimbra, onde a minha PX numa descida daquelas, no cone de um camião (isso não se faz) decide semi-agarrar, e digo semi porque
na altura me pareceu mas não
foi bem, foi-se abaixo e naquela fracção
premi a embraiagem ficando solta... desci até
conseguir encostar, óleo
TTS com fartura para o depósito
e toca seguir viagem... aconteceu mais 3 vezes o que deu para ver que era mau
feitio por baixar o regime de aceleração
da viagem... o que ela queria era rolar sempre em alta... assim, foi, até Lisboa, vim sempre com uma
aceleração alta doseando
com os travões a
velocidade.
Hora da despedida... estamos todos de parabéns. |
A despedida da "squadra" deu-se ainda na nacional
porque o Adolfo seguiu pela auto-estrada para estar depois de almoço na festa de final de ano da
sua filhota, a Marta... os 2 bravos das vespas seguiram até á
Benedita onde chegámos por
volta da hora de almoço...
surpresa das surpresas, e das boas, a Fatinha foi lá ter para receber os seu heróis... melhor não
podia ser... almoço na Jomafel e seguimos para
casa do Penas para o deixar na segurança
do lar e aproveitar para cumprimentar a D. Trindade e o Luis Penas... com
tantas histórias para
contar podíamos ter ficado
muito tempo mas era altura de seguir para Lisboa e fechar esta aventura de
pouco mais de 5000kms.
Assim foi, nestes últimos
100kms a solo, acompanhado pela Fatinha (também
ela em ritmo lento), em jeito de balanço final, ia revendo estes últimos dias de verdadeiro mosqueteiro, onde imperou um sentimento de incentivo em todos nós que nos permitiu "chegar lá".
Não me falem desta ou aquela mota, desta ou daquela velocidade cruzeiro, meus amigos quando há vontade, é agarrar e ir.
Não me falem desta ou aquela mota, desta ou daquela velocidade cruzeiro, meus amigos quando há vontade, é agarrar e ir.